A partir de uma perspectiva metodológica que traz os diagramas como ferramentas centrais e tomando como referência alguns autores que se utilizam dessa metodologia como recurso explicativo, pretende-se demonstrar a adequação dessa abordagem para o campo da psicologia. Sabemos que o uso de modelos heurísticos encontra-se largamente difundido em importantes campos do conhecimento e que tanto na pesquisa quanto na aplicação prática cotidiana, essa forma de abordagem tem produzido resultados numerosos e consistentes, OBJETIVOS: Contribuir para a construção de uma psicologia científica, através do desenvolvimento de um processo de modelagem, que atue como facilitador e concerna suas várias vertentes, inclusive a psicanálise no campo ampliado das ciências da cognição.
METODOLOGIA: Um dos pressupostos do estudo é que esquemas conceituais são mais do que linguagens estanques e referidas somente a contextos sócio-histórico-culturais, pois, mesmo implicitamente, uma vez existentes, as estruturas linguísticas ou mesmo infra-estruturas cognitivas, há pontes que viabilizam interpretações e traduções. A busca dessas pontes pode ser empreendida seguindo algumas pistas ou pressuposições básicas, entre elas a de que têm caráter estrutural e o método estruturalista considera que o conjunto das relações que estabelecem a estrutura é determinante nas explicações dos fenômenos. A utilização de modelos diagramáticos pode ajudar na busca e compreensão dessas relações, articulando conceitos que somente existem na mente humana. Mas, na medida em que um modelo pode se prestar à interpretação de teorias, mas não reflete necessariamente a realidade, caso não se tenha essa clareza, corre-se o risco de reduzir fenômenos a entes ideais e trabalhar com tal simplificação como uma realidade em si. Sobre isso nos adverte o epistemólogo Bachelard (1996), ao mesmo tempo em que prescreve os cuidados necessários para se evitar tal sorte de reificação, o método da alternância entre o arqueológico e o teleológico, em outras palavras, entre o estrutural e o fenomenológico. Dessa forma, diferentemente das demais abordagens estruturalistas que buscam explicar arqueologicamente a realidade, em Bachelard, a fenomenologia fará o papel da estratégia teleológica. O autor buscou superar a contradição entre o arqueológico e o teleológico e, em nossa opinião, com sucesso, posto que transformou o que poderia ser um impasse epistemológico, partindo de sua noção de "obstáculo epistemológico", em uma rica metodologia que consiste em alternar o estudo científico dos signos com a imaginação criativa. Na introdução de seu livro "A Formação do Espírito Científico"(1996), Bachelard deixa bem clara a sua proposta de provar que pensamento abstrato não é sinônimo de má consciência científica e define bem o que ocorre com o espírito diante da formulação de uma "lei geométrica": "Quando se consegue formular uma lei geométrica, realiza-se uma surpreendente inversão espiritual, viva e suave como uma concepção; a curiosidade é substituída pela esperança de criar. Já que a primeira representação geométrica do fenômeno é essencialmente uma ordenação, essa primeira ordenação abre-nos as perspectivas de uma abstração alerta e conquistadora que nos levará a organizar racionalmente a fenomenologia como teoria da ordem pura."(Idem, p. 7-8). Concordamos também com Mário Bunge (Teoria e realidade, 2008) que o "objetivo da pesquisa não é a acumulação de fatos, mas a sua compreensão, e que esta só se obtém aventurando e desenvolvendo hipóteses precisas", optamos pela realização meta-experiências utilizando personagens conceituais. Na medida em que, tal como os próprios conceitos, personagens conceituais têm origem diagramática e compartilham dessa qualidade com o símbolo em geral, buscamos explicar a sua estrutura profunda utilizando a metodologia proposta. RESULTADOS: Acreditamos que o objeto-modelo desenvolvido através de uma lógica diagramática, mostrou-se apto a produzir uma tópica sistemática capaz de atribuir a cada conceito, no todo, o seu lugar e função. Dessa forma, pudemos representar situações no mundo real e delas se extrair implicações de ordem pragmática, não apenas para o campo da psicologia, mas, por conseqüência, para a todas as demais áreas das ciências da cognição e para além dela. DISCUSSÃO: Embora, com múltiplos interlocutores contemporâneos e fundamentado em autores seminais, foi possível desenvolver um modelo original. Em relação a Kant, ousou-se levar ao "pé da letra" a sugestão de uma tópica sistemática e em Peirce, ao invés de conectivos proposicionais, lançaram-se em diagramas, conceitos e categorias antropológicas, sociológicas, políticas, éticas, religiosas, psicológicas, artísticas e pelo menos potencialmente, todas as demais. Tais conceitos e categorias estão articulados entre si de tal forma a constituírem quatro campos distintos que podem ser a representação do próprio plano de imanência inscritos, inclusive, na estrutura profunda da simbologia numinosa. Posto que o princípio ordenador do método é a Finalidade, pode-se designá-lo como teleológico e uma vez que se trata de um modelo antropológico transcendental, pode-se classificá-lo como ontológico e finalmente, como método para o conhecimento é epistemológico.