Autor(es)
Claudia Marinho Wanderley
Data

A proposta intelectual com a qual nos comprometemos junto ao Paiter Esar (Povo Paiter Suruí) visa à sistematização acadêmica de temas importantes e a revitalização e fortalecimento de sua língua materna. As atividades de interação entre saberes se iniciaram por intermédio de oficinas entre professores indígenas e não indígenas. Com as diversas questões filosóficas e práticas que advém de tal conjunção, trata-se de um primeiro exercício para entendermos os elementos que participam do contato entre linguagens, rostos e mundos. Trabalhamos neste projeto com três línguas (paiter suruí, português e inglês) e três tradições sobre o saber, no exercício de considerá-las com igual força. Entendemos que a reflexão interdisciplinar sobre a auto-organização, pensada entre culturas e línguas, nos torna mais capazes de nos ouvir, ouvir as vozes dos outros e sistematizarmos estas relações ao menos a partir de nossa perspectiva. Trazemos a noção de perspectiva aqui como pensada por Deleuze e Guattari, a partir da nossa leitura de Viveiros de Castro. Entendemos que considerar diferentes perspectivas para sistemas multilingues e multiculturais, como é o caso deste projeto, modifica necessariamente o que nós imaginamos que seja o trabalho conjunto, e o que nós podemos de fato realizar. Trata-se, portanto, de um movimento contínuo de elaboração, ou de processos de auto-organização como pensados por Debrun. Esta dobra reflexiva sobre as atividades do projeto é necessária no nosso caso por estarmos trabalhando com o discurso acadêmico com intuito de fortalecer e somar com outro discurso de saber. Por isso, apresentamos este exercício de autorreflexão junto ao grupo de pesquisa buscando compreender melhor o que está em relação em nossas atividades, para consolidarmos o nosso propósito. Quando respeitamos o fato de estarmos entre diferentes, talvez estejamos mais próximos de realizar algo em prol do bem comum.

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