Sintaxe e Semântica Universais
Sinopse
Sintaxe e Semântica Universais (digital)
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“Richard Montague morreu jovem, mas deixou uma obra extremamente significativa para a filosofia da linguagem e a linguística teórica. Criou um "paradigma" ou "programa de pesquisa" para os estudos de sintaxe e semântica das línguas naturais que, até hoje, é um dos mais influentes do gênero. A Gramática Universal de Montague providencia um arcabouço teórico que permite um tratamento da sintaxe e da semântica das línguas naturais tão rigoroso quanto o das linguagens formais dos lógicos. Aliás, para Montague, não há nenhuma diferença essencial entre as línguas naturais e as linguagens formais. Fragmentos consideráveis das línguas naturais podem ser tratados com o mesmo rigor matemático com o qual os lógicos costumam tratar a semântica das linguagens formais, e que Chomsky e seus seguidores nunca conseguiram atingir no âmbito do programa de Gramática generativa e transformacional, o programa de Gramática Universal do famoso linguista e filósofo do MIT.
A semântica de Montague retoma a tradição fregeana e o conceito central de "condições de verdade". A ideia da semântica veri-condicional é a seguinte: Conhecer o significado de uma sentença (declarativa) é saber como o mundo deveria ser para que a sentença seja verdadeira. Esse caráter veri-condicional da semântica visa "capturar" a intencionalidade "derivada" da linguagem, o fato de que as expressões que usamos são "acerca de" algo (indivíduos, classe de indivíduos, estados de coisas, etc.) no mundo. Essa semântica também retoma a tradição tarskiana que recorre à teoria dos modelos, quer dizer, ela constrói a interpretação das expressões da linguagem-objeto, usando modelos matemáticos abstratos dessas coisas no mundo que constituem seus valores semânticos. Até agora, a teoria dos modelos é o melhor método encontrado para realizar o programa da semântica veri-condicional. Por fim, a semântica de Montague usa a noção de Mundo Possível, introduzida na semântica contemporânea por S. Kripke, para dar conta dos fragmentos das línguas naturais contendo modalidades (aléticas, temporais, deônticas, etc.).
Montague tentou duas estratégias de interpretação na sua semântica universal: uma direta, representada por "English as a Formal Language", e a outra indireta, via tradução, apresentada em "Universal Grammar", e aplicada de modo espetacular no famoso "PTQ", "The Proper Treatment of Quantification in Ordinary English". Essa segunda estratégia, mais potente, consiste em traduzir fragmentos de uma língua natural na linguagem da lógica intensional, uma linguagem muito rica, que pertence ao arcabouço da Gramática Universal de Montague, e para a qual uma interpretação (uma definição tarskiana da verdade) já foi construída. É bom se lembrar que "Universal", no programa semiótico de Montague, não significa a mesma coisa que no programa de Gramática Universal de Chomsky. Para Chomsky, a Gramática Universal é parte da psicologia; ela tenta explicar os universais presentes nas línguas naturais e também determinar os limites da classe das línguas humanas possíveis. Para Montague, a Gramática Universal é parte da matemática, e "Universal" tem aqui o sentido de "generalidade matemática", quer dizer: a Gramática Universal, como parte da matemática, deve apresentar um arcabouço geral o suficiente para abarcar a descrição de qualquer sistema de signos que pode ser chamado de "linguagem", seja uma língua humana ou qualquer linguagem artificial. Portanto, na acepção de Montague, a palavra "universal" é mais abrangente.
A tese de que não existe nenhuma diferença essencial entre as línguas naturais e as linguagens formais dos lógicos é certamente a mais provocativa na filosofia de Montague. Em "PTQ" e "Universal Grammar", ele se limita ao fragmento declarativo da linguagem-objeto (um fragmento considerável do inglês). As questões, exclamações, ordens, e outros enunciados não declarativos não são contemplados nas realizações iniciais e "provisórias" do programa semiótico de Montague; mas seus seguidores já construíram "extensões conversativas" de seu projeto inicial. As noções de "condições de sucesso" e de "condições de satisfação" introduzidas por Searle e Vanderveken (1985) e sistematizadas por Vanderveken (1991) são uma prova de que o programa de Montague é rico de promessas que vão sendo cumpridas com o tempo. Mesmo assim, muitos linguistas e filósofos da linguagem não aceitam, aliás com toda razão, a ideia de que um conhecimento da sintaxe e da semântica de uma linguagem basta para dar conta do entendimento de um discurso, ou para/a/ar uma língua com uma "competência comunicativa" satisfatória. Como escreve Wittgenstein, "Se um leão pudesse falar, nós não seriamos capazes de entendê-lo". Sem o conhecimento das práticas e regularidades sociais e naturais, o conhecimento da sintaxe e da semântica não adianta muito para a interpretação de um discurso. O aprendizado da linguagem stricto sensu (sintaxe e semântica) e o aprendizado do mundo natural e social não são dois processos dissociados. Um extraterrestre, com a capacidade cognitiva de uma máquina de Turing, encontrando por acaso um exemplar do livro do Professor Márcio Kléos F. Pereira, i.e, uma Gramática de Montague do português brasileiro, não saberia necessariamente o que dizer para comentar inteligentemente um belo toque de bola de um jogador do Flamengo numa partida no Maracanã, ou como reagir verbalmente a uma descrição técnica de um golpe de capoeira, mesmo se for possível para ele estudar seriamente o livro de modo a poder formular um número potencialmente infinito de sentenças bem formadas do português. Mas com certeza, o conhecimento representado numa gramática de Montague, que não é necessariamente "realizado cognitivamente", é, porém, parte essencial da competência comunicativa de qualquer falante do português.
O livro do Professor Márcio Kléos F. Pereira torna acessível, pela primeira vez em língua portuguesa, o essencial da obra de Montague, o grande continuador de Leibniz, Frege, Russell e Carnap, e o maior representante contemporâneo da "Filosofia Formal". Tornar acessível a obra de Montague, em si, representa uma façanha que o Professor Márcio Kléos realizou com uma competência à altura de seu promissor talento. E adaptá-la para o português também foi uma tarefa às vezes difícil (é só pensar nas regras relativas ao advérbio de negação "não" em português, que tem um comportamento e uma distribuição nas sentenças bem diferente do equivalente inglês). Por essas razões, o livro do Professor Márcio Kléos deve constar na biblioteca de qualquer linguista e filósofo da linguagem de língua portuguesa interessado no que a filosofia e a lógica contemporânea podem oferecer de melhor na semântica das línguas naturais.”
Márcio Kléos Freire Pereira
VOLUME 32 – 2001
ISSN: 0103-3147
Primeira Edição, 2001
Índice para catálogo sistemático
- Gramática 415
- Semântica 412
- Semântica (Filosofia) 149.946
OBS. O presente livro tem por objetivo expor e comentar os principais aspectos da proposta de uma gramática universal, conforme concebida pelo filósofo contemporâneo Richard Montague, bem como ilustrar essa proposta com aplicações a dois fragmentos declarativos de uma língua natural (a saber, o português). As aplicações que constam em nosso livro são uma adaptação dos resultados de aplicações similares a fragmentos do inglês feitas pelo próprio Montague. Distinguem-se uma da outra pela estratégia de interpretação semântica empregada nos dois casos.