O Filósofo e sua História: uma homenagem a Oswaldo Porchat

Autores

Michael B. Wrigley
Plínio Junqueira Smith

Sinopse

O filósofo e sua história: uma homenagem a Oswaldo Porchat (digital)

 

Catálogo da Coleção CLE

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“Este volume reúne uma série de artigos em homenagem a Oswaldo Porchat e, ao organizá-lo, pensamos que deveria refletir a trajetória acadêmica do filósofo. Essa idéia, sugerida por Paulo Faria, foi prontamente aceita pelos participantes do GT Ceticismo da ANPOF, fundado por Porchat, que ficaram encarregados de dar a primeira forma à homenagem. Assim, convidamos vários filósofos para que contribuíssem com artigos que, direta ou indiretamente, retomassem os temas e autores que lhe são mais caros, tais como ceticismo, vida comum, estruturalismo, Aristóteles, Descartes, Hume. A idéia não era simplesmente a de reunir filósofos em um mesmo livro por relação de amizade com o homenageado, independentemente do conteúdo de suas contribuições. A melhor homenagem, assim nos pareceu, consistia em prosseguir nas trilhas por ele abertas. O próprio conteúdo dos artigos deveria, portanto, testemunhar nosso reconhecimento, dívida e admiração. Assim, o leitor encontrará artigos sobre Aristóteles e a filosofia antiga, sobre a história do ceticismo e da filosofia moderna, às quais ele tanto se dedicou, bem como sobre questões relacionadas ao método estrutural e à sua própria reflexão pessoal. Por considerarem que seus trabalhos estão distantes dos temas ou autores propostos, alguns amigos não puderam contribuir para esse volume, embora tivessem gostado de participar da presente homenagem.

Porchat é, sem dúvida, um dos filósofos mais conhecidos e respeitados no Brasil e em toda a América Latina. Há razões de sobra para isso, tanto pessoais, quanto filosóficas. Por um lado, ele consegue aliar, em sua personalidade, a seriedade, a honestidade e, mesmo, uma certa formalidade com uma atitude calorosamente afetiva, amistosa e bondosa. Sob a aparência característica do filósofo despreocupado de problemas mundanos, revela um vivo interesse pelos afazeres humanos do cotidiano e está permanentemente atento tanto às relações pessoais, cultivadas com carinho e uma atenção toda especial, quanto ao que se passa no mundo, procurando informar-se adequadamente e ter uma visão crítica da situação social e política. Não é por acaso que a temática da vida comum atravessa todas as fases de seu pensamento. O que talvez seja menos evidente, mas ainda assim digno de nota, é seu senso de humor, que, não raro, emerge em seus textos onde menos se espera. Tudo isso tornou Porchat uma personalidade muito estimada entre nós.

Por outro lado, a solidez de seu pensamento, o rigor de suas reflexões, a elegância, precisão e clareza de sua linguagem e a capacidade de resolver dificuldades e encontrar soluções aos mais diferentes problemas filosóficos (exceto, naturalmente, o conflito das filosofias...) são notáveis e de todos conhecidos. Como professor, é de uma dedicação extrema, usando parte significativa de seu tempo de estudo para preparar uma aula, cujo conteúdo ele já dominava plenamente. Às perguntas dos alunos, quaisquer que sejam elas, responde com a maior consideração. Saber escutar é uma de suas virtudes. Procura colocar-se ao lado de seus alunos, para, compreendendo as idéias, necessidades e dificuldades deles, ajudá-los a aprender filosofia. Sua atitude como orientador não é menos generosa, cedendo-lhes tempo precioso e acompanhando-os em todos os momentos da pesquisa: na elaboração do projeto, na leitura de todos os textos relevantes, na redação e revisão dos trabalhos, quando não somente corrige as idéias e o português, mas mesmo o estilo e as traduções de comentadores. Ao desempenhar o papel de professor ou orientador, Porchat não diminui seu rigor, nem deixa de respeitar seus alunos, pessoal ou intelectualmente. A companhia dos jovens sempre foi uma de suas predileções, vendo neles o estímulo para continuar seus trabalhos, sobretudo os de educador, e um motivo de alegria pessoal, de constante renovação. Essas suas características são conhecidas somente por aqueles que tiveram a felicidade de estudar ou trabalhar com ele.

Falar sobre Porchat é falar das coisas que dizem respeito mais intimamente a muitos de nós: nenhum filósofo brasileiro tocou tão de perto os “pensamentos mais primitivos” que acompanham o ingresso na filosofia - a iniciação filosófica. Lendo-o e refletindo sobre seus textos, somos espontaneamente convidados a filosofar e cedemos àquela disposição para a filosofia à qual ele se referiu. Há uma relação interna entre educação e filosofia, ou, talvez, entre educação e “corrupção”, que permanece uma chave para entender a aventura de Sócrates. Pensando na exemplaridade de Porchat como professor de filosofia, é impossível não deixar de relacionar seu empenho em tornar possível que se comece a fazer filosofia no Brasil com sua tematização infatigável, pois já dura mais de um quarto de século, das condições de um discurso filosófico. Não é prematuro, parece-nos, atribuir às suas obras uma grande significação histórica para muito do que se vai fazer em filosofia no Brasil daqui para a frente.

Sua contribuição institucional também merece destaque. Porchat fundou, como se sabe, o Centro de Lógica e Epistemologia (CLE), em 1977. É impossível resumir; em poucas palavras, o que essa fundação significou para a filosofia brasileira, dada a qualidade, produtividade e longevidade do CLE, bem como o papel que esse desempenhou entre nós. Não menos importante foi a fundação de um Programa de PósGraduação em Filosofia na UNICAMP. Organizando inúmeros colóquios anuais e convidando filósofos de várias universidades brasileiras, Porchat deu um passo decisivo para a integração da filosofia no Brasil. Entre suas iniciativas, estão também as revistas de filosofia Manuscrito e Cadernos de História e Filosofia da Ciência, que rapidamente ganharam destaque e se tornaram importantes veículos de discussão, em âmbito não somente nacional, mas também internacional. Em todas essas empreitadas, a contribuição de Ezequiel de Olaso, que veio a se tornar um grande amigo seu, foi fundamental. A profunda amizade entre os dois permitiu ainda que os laços da filosofia brasileira com a filosofia latino-americana também se estreitassem.

É, portanto, “absolutamente necessário” (ainda que um cético possa ter suas dúvidas a respeito dessa noção metafísica...) prestar uma homenagem a Porchat, dedicando-lhe este volume, com a mais profunda admiração, estima e afeto.”

Michael B. Wrigley

Plínio Junqueira Smith

 

Volume 36 – 2003

ISSN: 0103-3147

Primeira Edição, 2003

 

Índice para catálogo sistemático

Filosofia brasileira 199.81

Filósofos brasileiros 199.81

 

OBS: Este volume reúne uma série de artigos em homenagem a Oswaldo Porchat e, ao organizá-lo, pensamos que deveria refletir a trajetória acadêmica do filósofo. A melhor homenagem, assim nos pareceu, consistia em prosseguir nas trilhas por ele abertas. Assim, o leitor encontrará artigos sobre Aristóteles e a filosofia antiga, sobre a história do ceticismo e da filosofia moderna, bem como sobre questões relacionadas ao método estrutural e à sua própria reflexão pessoal.

Publicado

April 10, 2023

ISSN impresso

0103-3247