Tantos sóis, tantos mundos, tantas hipóteses: a história das teorias de formação do sistema solar e os progressos da ciência
Sinopse
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"Este livro é um estudo híbrido que combina a história e a filosofia da ciência para refletir sobre o desenvolvimento de um campo pouco explorado pelos historiadores, e menos ainda pelos filósofos: a investigação científica da formação do sistema solar e de sistemas planetários. Os mais de três séculos de história dessa área contêm múltiplas hipóteses refutadas, conceitos abandonados, becos sem saída teóricos. Isso poderia sugerir ausência de progresso científico nesse campo, mas a partir de meados do século XX o conhecimento de fundo que informa as teorias de formação planetária, especialmente sobre a estrutura e a evolução estelar e de nebulosas moleculares, avançou rapidamente. E então, de maneira surpreendente, nas últimas quatro décadas os avanços das observações astronômicas geraram um corpo de conhecimento que permitiu a atual convergência para uma suposição empiricamente bem ancorada: a de que planetas se formam ao redor de estrelas recém-nascidas, em discos de gás e poeira que são uma consequência natural da formação estelar. A partir das observações de discos protoplanetários e das detecções de milhares de exoplanetas, o autor argumenta que é insensato não reconhecer que houve progresso substancial nas investigações sobre as origens do sistema solar. Essas reflexões são propostas articulando a história da ciência às discussões filosóficas sobre o progresso científico (se existe e, se sim, de que natureza é), às mais influentes metateorias da filosofia da ciência, como as de Thomas Kuhn e Larry Laudan, e às contribuições de Alan Chalmers e Susan Haack. O livro também oferece uma desconstrução da interpretação cética proposta pelo principal historiador do tema, Stephen G. Brush, cuja clássica e seminal obra foi publicada ainda quando os aportes observacionais e empíricos que atualmente balizam a área começavam a emergir.
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Qual é a origem do sistema solar? Como explicar a formação do Sol, dos planetas, de suas luas, dos asteroides e cometas? Eis um enigma que ocupou a mente de filósofos naturais e cientistas desde que o heliocentrismo fincou alicerces na cultura ocidental. As características regulares do nosso sistema planetário – por exemplo, todos os planetas se movem ao redor do Sol no mesmo sentido e aproximadamente no mesmo plano – apontavam para uma causa primordial, uma origem em comum entre a estrela e seu séquito planetário. A partir disso, Laplace propôs uma solução no final do século XVIII que predominou durante mais de cem anos: uma nuvem de gás de extensão colossal teria entrado em contração, formando um disco com a maior parte da matéria se reunindo aos poucos no centro e, ao seu redor, anéis concêntricos dos quais se formariam os planetas. A hipótese nebular sugeria que planetas são subprodutos da formação de estrelas, impulsionando as especulações novecentistas sobre a pluralidade dos mundos e a vida extraterrestre. No entanto, no começo do século XX, teorias que postulavam origens distintas para o Sol e para os planetas ganharam proeminência: os planetas teriam se formado a partir dos escombros de uma quase colisão entre o Sol e outra estrela. Por três décadas essas teorias motivaram uma visão em que o sistema solar era um raríssimo espécime, talvez único, em que uma estrela está acompanhada de planetas. Porém, essas concepções também se revelaram infrutíferas e, na metade do século XX, o consenso era o de que não havia solução satisfatória para o enigma. Nesse mesmo momento, começou a florescer uma comunidade científica especializada no problema. Essa comunidade chegou a um consenso mínimo no final do século XX em torno da concepção de que o processo de formação planetária se dá em discos de gás e poeira que se formam ao redor e em conjunto com estrelas muito jovens. Mesmo com muitos avanços, contudo, a área ainda não produziu uma teoria completa capaz de interconectar todos os fenômenos. Este livro traça uma história desse campo de investigação científica e discute seu desenvolvimento a partir de reflexões sobre o progresso científico e algumas das mais influentes metateorias da filosofia da ciência. Apesar das idas e vindas, becos-sem-saída e impermanências teóricas que marcam a história do campo, o autor defende que é possível identificar sinais robustos de progresso científico no conhecimento sobre a formação de sistemas planetários, principalmente a partir das últimas décadas do século XX."
Danilo Albergaria
Volume 91 – 2022
ISSN: 0103-3247
ISBN: 978-65-88097-06-9 (digital) 978-65-88097-11-3 (impresso)
Índice para catalogo sistemático
Logica- Estudo e ensino 160
Paradoxo 165 Logica – Filosofia 160.1
Abstract
“Theories on the Solar System formation have a long, centuries-old history. Starting with Descartes, going on to the works of Kant and Laplace, several natural philosophers and scientists have proposed theories that tried to explain the origin of the system from an initial primordial state moving forward to the features currently observed. In the second half of the 20th century the question began to be inquired by a growing specialized scientific community. A scientific consensus began to be formed in the last decades of this period, becoming even more cohesive in the 21st century, around the conception that planets are by-products of the formation of the Sun and that the process of planetary formation takes place in a circumstellar disc (protoplanetary), a natural consequence of the formation of stars. However, despite many advances in solving specific problems, the area has not yet reached a consistent theory about the formation of planetary systems. I draw philosophical reflections on the historical development of this field of scientific inquiry. Relevant philosophical takings on the problem of scientific progress are considered, mainly the classical metatheoretical proposals of Thomas Kuhn, Imre Lakatos and Larry Laudan, as well as the more recent contributions of Alan Chalmers and Susan Haack. Although the history of cosmogony is filled with theoretical dead-ends and ruptures, clues of scientific progress can be identified, especially on the last decades of the 20th century. This assessment of scientific progress in the area is formulated in opposition to the skeptical view proposed in the mid-1990s by the main historian of the topic, Stephen G. Brush.”