Naturalismo e Filosofia em David Hume
Resumo
A obra de David Hume é especialmente marcada por sua recepção. Hume aparece por vezes como cético, crítico, naturalista, fenomenista ou mesmo positivista, mas assim suas idéias encontram-se como que fora de lugar, o que parece roubar à obra sua identidade ou ainda, de modo mais desastrado, espalhar contradições por seu trabalho. Neste texto, procuramos mostrar que uma tensão entre experiência e natureza (correlata à tensão entre filosofia e ciência) pode oferecer uma produtiva aproximação à obra. Acreditamos que essa distinção é favorecida por tensões presentes na própria obra, cuja leitura deve assim permanecer tensionada pelo exame dos princípios do entendimento (que sempre afirmam a contingência da experiência) e pela concomitante ocorrência da natureza ? recurso que nos devolve a laços necessários e torna possível uma ciência da natureza humana, sem todavia suprimir ou substituir o trabalho filosófico que antes limitara as pretensões indevidas da razão. Por outro lado, fazemos notar que a simples afirmação de um naturalismo nada resolveria, uma vez que ?natural? é termo reconhecidamente ambíguo, cabendo-nos investigar, se não quisermos incorrer em estreito anacronismo, a específica imagem humeana de natureza. Esmigalhado o mundo pela aplicação conjunta e lógica do princípio atomista e do empirista, a investigação sobre o fundamento de nossos princípios associativos devolve-nos decerto a um resultado naturalista, conquanto ele jamais possa ser determinado previamente ou apenas pelos meios exclusivos da própria ciência.
Palavras-chave: David Hume. Naturalismo. Ceticismo. Experiência. Natureza.