Existe uma Resposta Ockhamiana (ou não Ockhamiana) ao Ceticismo?

Autores

  • Departamento de Filosofia/FAFICH/UFMG Av. Antônio Carlos, 6627 31270-901 BELO HORIZONTE, MG BRASIL

Resumo

A idéia que a teoria ockhamiana da notitia intuitiva tem conseqüências céticas está presente há algum tempo na literatura secundária. Este tema reaparece num recente artigo de Elizabeth Karger. Segundo Karger, o problema central da teoria ockhamiana é que um julgamento pode me parecer evidente e no entanto ser falso, em virtude da intervenção divina – a célebre notitia intuitiva de re non existente. O Venerabilis Inceptor teria tentado evitar o ceticismo, sem sucesso, estipulando que todo conhecimento evidente é relativo ao verdadeiro. Adão de Wodeham percebeu este ponto e negou ao conhecimento natural a certeza acerca de temas contingentes, isto é, diz Karger, teria reconhecido as conseqüências céticas da teoria ockhamiana. Esta interpretação não me parece correta. Inicialmente, julgamentos evidentes não são, em Ockham, julgamentos que pareçam evidentes, mas assentimentos causados de uma determinada maneira. Pode-se responder que a conseqüência cética permanece, o assentimento a proposições contingentes podendo sempre ser causado de maneira sobrenatural, pela ação divina, o que torna instável o conhecimento humano. Deve-se no entanto observar, por um lado, que a ligação estipulativa entre a cognitio evidente e a verdade não altera a situação cognitiva do homem e, por outro, é possível pensar que se pode ainda falar de conhecimento, com a estabilidade de processos naturais. Com efeito, esta parece ser a sugestão de Wodeham acerca da teoria ockhamiana, e certamente é a uma posição teórica possível. Não apenas Wodeham não tira conseqüências céticas da teoria ockhamiana, como estas não decorrem de maneira inelutável de sua teoria.

Palavras-chave: Ceticismo. Conhecimento evidente. Conhecimento intuitivo. Guilherme de Ockham.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ADÃO DE WODEHAM. Lectura secunda in librum primum sententiarum. Prologus et Distinctio Prima. In: R. Wood e G. Gal (eds.). Saint Bonaventure: Saint Bonaventure University, 1990.
ADAMS, M. William Ockham. Notre Dame: University of Indiana Press, 1987. (2v.)
BIARD, J. Guillaume d'Ockham – Logique et Philosophie. Paris: PUF, 1997.
BONJOUR, L; SOSA, E. Epistemic Justification – Internalism vs. Externalism, Foundations vs. Virtues. Oxford: Blackwel, 2003.
FITZGERALD, M.J. Albert of Saxony’s Twenty-five Disputed Questions on Logic. Leiden: Brill, 2002.
FOLEY, R. Working Without a Net. Oxford: Oxford University Press, 1993.
GRELLARD, C. Le problème sceptique au Moyen Âge, de Saint Augustin à Jean Buridan. Ms. 2005.
GUILHERME DE OCKHAM. Scriptum in librum primum sententiarum – Ordinatio. Prologus et Distinctio Prima. In: G. Gal e S. Brown (eds.). Opera Theologica I. Saint Bonaventure: Saint Bonaventure University, 1967.
GUILHERME DE OCKHAM. Summa logicae. In: Ph. Boehner, G. Gal e S. Brown (eds.). Opera Philosophica I. Saint Bonaventure: Saint Bonaventure University, 1974.
GUILHERME DE OCKHAM. Tractatus de Praedestinatione et de Praescientia Dei respectu Futurorum Contingentium. In: Ph. Boehner e S. Brown (eds.). Opera Philosophica II. Saint Bonaventure: Saint Bonaventure University, 1978.
GUILHERME DE OCKHAM. Quaestiones in librum secundum sententiarum – Reportatio. In: G. Gal e R. Wood. Opera Theologica V. Saint Bonaventure: Saint Bonaventure University, 1981.
GUILHERME DE OCKHAM. Quodlibeta septem. In: J.C. Wey (ed.). Opera Theologica IX. Saint Bonaventure: Saint Bonaventure University, 1980.
KARGER, E. “Ockham’s Misunderstood Theory of Intuitive and Abstractive Cognition”. In: P.V. Spade (ed.). The Cambridge Companion to Ockham. Cambridge. Cambridge: Cambridge University Press, p. 204-226, 1999.
KARGER, E. “Ockham and Wodeham on Divine Deception as a Skeptical Hypothesis”. Vivarium, XLII(2), p. 225-236, 2004.
McDOWELL, J. “Criteria, Defeasibility and Knowledge”. Proceedings of the British Academy, 68 p. 455-479, 1982. [Reimpresso em McDowell, J. Meaning, Knowledge, and Reality. Cambrige, MA: Harvard University Press, p. 369-394, 1998].
NOË, A.; THOMPSON, E. (eds.). Vision and Mind – Selected Readings in the Philosophy of Perception. Cambridge, MA: The MIT Press, 2002.
SNOWDON, P. “Perception, Vision and Causation”. Aristotelian Society Proceedings New Series, 81, p. 175-192, 1980-1981. [Citado a partir da reimpressão em Noë e Thompson, 2002, p. 151-166]
TACHAU, K.H. Vision and Certitude in the Age of Ockham. Leiden: Brill, 1988.

Downloads

Publicado

2017-03-09

Edição

Seção

Artigos